Grupo chinês CBSteel anunciou que
pretende investir US$ 3,5 bilhões em uma unidade na cidade de Bacabeira;
companhias nacionais, que operam com ociosidade de quase 40%, dizem que ‘causa
estranheza’ interesse chinês no mercado local
Mariana Durão / RIO,
O Estado de S.Paulo
Em meio à maior crise de sua história, o
setor siderúrgico nacional se articula para barrar a instalação de uma fábrica
da empresa chinesa CBSteel na cidade de Bacabeira, no Maranhão. A preocupação
setorial já foi levada ao governo local e a Brasília. A projeção do Instituto
Aço Brasil, que representa o setor, é encerrar 2016 com uma produção nacional
de aço 6,8% menor e o consumo aparente, que reúne produtos nacionais e
importados, encolhendo 14,4%, para o patamar de dez anos atrás.
O protocolo de intenções da CBSteel com
o governo maranhense foi assinado no ano passado e o interesse no projeto
reafirmado durante a visita do presidente Michel Temer à China para a reunião
do G-20, no início do mês. O investimento é estimado em US$ 3,5 bilhões na
primeira fase, para atingir uma capacidade de produção anual de 3 milhões de
toneladas.
Em uma segunda etapa, a capacidade seria
ampliada a 10 milhões de toneladas anuais – 20% da capacidade instalada do
setor no País –, com aporte de US$ 4,5 bilhões. O dinheiro virá do Fundo de
Desenvolvimento da China.
Na última semana, o Aço Brasil enviou
comunicado à China Iron and Steel Association (Cisa), na tentativa de
esclarecer que tipo de produto será fabricado pela CBSteel – se placas,
voltadas à exportação, ou vergalhões, o que indicaria foco no mercado doméstico
–, seu destino e se haverá incentivos. O instituto representa as principais
siderúrgicas do País, como Usiminas, Gerdau, ArcelorMittal, CSN e CSA.
De acordo com o secretário de
Desenvolvimento e Indústria do Maranhão, Simplício Araújo, a ideia é produzir
fio-máquina, que é destinado à fabricação de porcas e parafusos, por exemplo.
Depois, a chinesa partiria para os vergalhões.
A CBSteel aposta no desenvolvimento da
infraestrutura da região do Matopiba, nova fronteira agrícola do Brasil que
abrange o sul do Maranhão e Piauí, centro-oeste da Bahia e o Tocantins. O
governo prevê estender à siderúrgica os mesmos incentivos dados a outros
projetos, como 95% de isenção de ICMS.
Em julho, o Aço Brasil encaminhou uma
carta ao governador do Maranhão, Flávio Dino, relatando a preocupação com a
transferência de capacidade de produção de aço da China para o Brasil. O
documento cita uma reportagem em que o jornal chinês People’s Daily diz que o
projeto não só diminuiria a forte pressão internacional pela redução do excesso
de capacidade produtiva de aço na China, como poderia evitar a adoção de
medidas de defesa comercial, antidumping e de direitos compensatórios contra o
país.
A carta destaca que a indústria
siderúrgica brasileira utiliza hoje apenas 60,8% de sua capacidade e,
consequentemente, vem demitindo. De janeiro de 2014 a junho de 2016 foram
desligados 41.247 funcionários diretos das usinas. Ante o cenário local
negativo, o Aço Brasil afirma que “causa estranheza” que empresas chinesas
queiram instalar uma planta no Brasil “por meio da transferência de unidades e
equipamentos já existentes e em uso na China”.
Pressão
O apelo é para o governador avaliar “a
real efetividade dos benefícios que serão gerados pelo projeto e contrapô-los
aos riscos não só econômicos, mas também ambientais”. Recentemente, o assunto
foi levado à presidência da República e ao Ministério do Desenvolvimento,
Indústria e Comércio Exterior.
“O governo do Maranhão está negociando
com cautela para evitar problemas de poluição e com a cadeia siderúrgica. A
preocupação do setor é saudável, mas o Brasil precisa do empreendimento. É um
projeto que não vai ficar de pé antes de seis ou oito anos”, diz Araújo.
O secretário afirma que o Maranhão tem
uma demanda reprimida por investimentos, dado o histórico de projetos que
acabaram não saindo do papel. É o caso da siderúrgica da também chinesa
Baosteel e da Refinaria Premium da Petrobrás, cancelada após investimentos de
R$ 2 bilhões. Segundo Araújo, o projeto tem apoio do governo Temer e a Fazenda
analisa se algum incentivo federal é cabível.
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